Proposição (Canto I)
Estrofe 1: Os portugueses partiram da praia do Restelo numa nova rota marítima, passando por inúmeros perigos que exigiram dos portugueses uma força e coragem sobre-humanas, e novas e cobiçadas colónias.
Estrofe 2: O autor anuncia que irá falar sobre os reis que espalharam a fé cristã e aumentaram o território português em África e na Ásia e propõe-se, ainda, a relatar os feitos dos homens corajosos que foram esquecidos depois de morrerem (lei da morte: depois de mortas, as pessoas são facilmente esquecidas).
Estrofe 3: Os feitos dos portugueses enquanto navegadores superam os de Ulisses e Eneias e as suas façanhas em batalha ultrapassam as de Trajano e Alexandre o Grande. Os cantares de Calíope são superados pelos portugueses, a quem até Marte e Neptuno obedeceram (objectivo da estrofe: engrandecer os feitos do povo português). Marte simboliza as guerras, durante a viagem, que o povo português ganhou (por isso se diz que Marte obedeceu a Portugal) e Neptuno simboliza o mar e as navegações, que favoreceram os portugueses (por isso se diz que Neptuno obedeceu a Portugal).
1.1. Os versos das duas primeiras estrofes que anunciam o que o poeta vai cantar são: "As armas e os barões assinalados" (v.1, estrofe 1); "Daqueles reis que foram dilatando" (v. 2, estrofe 2); "E aqueles que por obras valerosas / se vão da lei da morte libertando" (v. 5/6, estrofe 2). 1.2. O poeta toma esta decisão porque os feitos portugueses ultrapassam os dos heróis da Antiguidade. 1.3. "Se a tanto me ajudar o engenho e a arte" (v.8, e. 2). 1.4. "Que eu canto o peito ilustre Lusitano" (v.5, e.3). 1.5. O herói deste poema épico é Portugal, são os portugueses.
2.1. Os heróis da Antiguidade são conhecidos como muito heróicos. O poeta diz que os feitos dos portugueses ainda mais o são, longo engrandece-os. 2.2. Os portugueses triunfaram no mar (logo Neptuno, deus do mar, fez-lhes a vontade) e na guerra (logo Marte, deus da guerra, fez-lhes a vontade).
Consílio dos deuses (Canto I)
Estrofe 19: Os portugueses já se encontram em pleno Oceano Índico (narração in medias res: que começa no meio da história), navegando com tempo favorável.
Estrofe 19: Os portugueses já se encontram em pleno Oceano Índico (narração in medias res: que começa no meio da história), navegando com tempo favorável.
Estrofe 20: Entretanto, os deuses reúnem-se, convocados por Júpiter através de Mercúrio, para decidirem se os portugueses chegam ou não ao Oriente.
Estrofe 21: Os deuses abandonaram os seus territórios oferecidos por Júpiter e reúnem-se no Olimpo.
Estrofe 22: Júpiter estava sentado numa cadeira muito trabalhada, com um rosto altivo e digno, típico de um deus (apesar de ele se apresentar na forma humana). Na cabeça tinha uma coroa e tinha nas mãos um ceptro brilhante e raios de Vulcano.Estrofe 23: No consílio, os deuses estavam sentados em tronos de ouro com pedras preciosas por ordem de importância: os mais antigos e experientes estavam sentados mais alto e os mais novos estavam mais abaixo.
Estrofe 24: Júpiter inicia o seu discurso, explicando que os outros povos devem ser esquecidos porque se destaca uma outra nação: Portugal.
Estrofe 25: Júpiter continua, dizendo que os portugueses, apesar dos seus exércitos pequenos, conseguiram derrotar os mouros (e conquistar-lhes a região à volta do Douro) e os espanhóis.
Estrofe 26: Júpiter relembra-os da vitória dos portugueses face aos romanos, com Viriato como chefe. Nessa batalha, eles conseguiram, até, fazer com que um romano (Sertório) lutasse a seu lado.
Estrofe 27: O discurso continua: naquele momento, os portugueses ousavam enfrentar o mar, passando por lugares nunca antes visitados, sem terem medo e com o objectivo de chegar ao Oriente.
Estrofe 28: A sua chegada ao Oriente estava prometida pelo destino (contra o qual nada se pode fazer) e Júpiter julga que o merecem, uma vez que os portugueses estavam cansados da longa viagem.
Estrofe 29: Júpiter termina o seu discurso dizendo que os portugueses já tinham passado por inúmeros perigos. Determina, por isso, que deveriam ser bem recebidos em África, para descansarem, e terminar a sua viagem, chegando à Índia.
Estrofe 30: Cada um dos deuses falava e dava a sua opinião sobre o que Júpiter tinha dito. Baco discordava, pois sabia que todos se esqueceriam dele e dos seus feitos no Oriente se os portugueses lá chegassem (porque assim os feitos dos portugueses teriam superado os dele).
Estrofe 31: Baco tinha ouvido do destino que os portugueses iriam chegar à Índia e que, quando isso acontecesse, eles seriam mais famosos que Baco.
Estrofe 32: Baco apercebe-se de que os portugueses lhe vão roubar a fama.
Estrofe 33: Vénus discorda de Baco, argumentando que os portugueses eram corajosos, aguerridos e falavam uma língua derivada da romana
Estrofe 34: Vénus queria ser celebrada pelos portugueses e Baco não queria perder a fama, por isso ficaram a discutir sem chegar a acordo.
Estrofe 35: A discussão dos deuses no Olimpo causa uma ventania na floresta.
Estrofe 36: Marte estava de acordo com Vénus (porque tinha tido um caso com ela ou porque os portugueses são um povo aguerrido). Decidido, fala a favor dos portugueses.
Estrofe 37: Levantando o elmo, põe-se à frente de Júpiter. Bate com o ceptro no chão e o céu treme. Apolo perde um pouco da sua luz devido ao susto.
Estrofe 38: Marte diz a Júpiter que faça cumprir o que ordenou no seu discurso inicial e não ouça mais ninguém, pois todos terão que obedecer à sua vontade.
Estrofe 39: Ele diz que o medo de Baco de perder a fama é grande demais para ele admitir que os portugueses são descendentes do seu companheiro Luso e merecem, por isso, o seu apoio.
Estrofe 40: Marte conclui o seu discurso, incitando Júpiter a não mostrar fraqueza e não voltar atrás na sua decisão sobre os portugueses. Diz-lhe para ordenar a Mercúrio que mostre aos portugueses o caminho para a terra onde podem descansar (África).
Estrofe 41: Júpiter concordou com Marte, deu por terminado o consílio (decidindo a favor dos portugueses) e os deuses seguiram o seu caminho.
Estrofe 42: Entretanto, os portugueses encontravam-se entre a costa da Etiópia e a ilha de São Lourenço.
Inês de Castro (Canto III)
Estrofe 118: Quando D. Afonso IV voltava da batalha do Salado, deparou-se com o triste e memorável caso de Inês de Castro (ela e o seu filho, D. Pedro, estavam apaixonados).
Estrofe 119: O poeta culpa o amor pela morte de Inês, porque este sentimento obriga os corações a fazerem coisas que não querem. O amor é caracterizado como sendo cruel e áspero, visto que trouxe dor e infelicidade a D. Inês.
Estrofe 120: Caracteriza-se Inês: é jovem, está apaixonada por D. Pedro (não vê mais ninguém e fala sozinha sobre ele).e não sabe o que lhe espera.
Estrofe 121: Quando Pedro se ausentava, ela ficava feliz com as suas memórias que tinha dele, sem se aperceber que não era mais do que uma ilusão.
Estrofe 122: Depois da morte de D. Constança, o seu marido D. Pedro não se quer casar com ninguém. O pai (Afonso IV) era pressionado pelo povo, que via com maus olhos a relação entre o príncipe (D. Pedro) e D. Inês.Estrofe 123: O rei decide, por isso, mandar matar Inês para libertar o filho do seu amor. Intervenção do poeta: como é um homem que combate os mouros consegue magoar uma donzela inocente cujo único crime é amar D. Pedro?
Estrofe 124: Inês é trazida perante o rei. Este tinha pena dela, mas o povo murmurava... Ela estava triste por abandonar Pedro e os seus filhos e por saber que ia morrer.
Estrofe 125: Inês estava de mãos atadas, por isso ergueu simplesmente os olhos chorosos para o seu implorando a Deus piedade.
Estrofe 126: Inês inicia o seu discurso, dirigindo-se ao rei. Ela diz-lhe, utilizando exemplos, que até os animais ferozes conseguem mostrar piedade e compaixão (entende-se que ela quer dizer: "se até as feras têm sentimentos, tu também devias ter, pá").
Estrofe 127: Inês continua: se o rei não tem piedade dela, uma donzela cujo crime é amar Pedrp, pode, pelo menos, mostrar respeito pelos seus netos: os filhos de Inês.
Estrofe 128: Inês prossegue: uma vez que D. Afonso IV consegue lutar contra os mouros, será justo que a poupe. E, se não o pode fazer, deveria mandá-la para o estrangeiro (desterro) em vez de a matar. O desterro iria matá-la espiritualmente (ela ficaria muito triste e cheia de saudades de Pedro) mas poderia criar os seus filhos.
Estrofe 129: Inês pede-lhe que a ponha no meio das feras, porque talvez consiga encontrar entre elas compaixão. No estrangeiro, os seus filhos seriam o seu consolo.
Estrofe 130: O rei estava comovido e queria perdoá-la, mas o povo e o destino não o permitiam. Os homens tiraram as espadas e mataram-na.
Estrofe 131: Compara-se Inês a Polycena, que foi morta por Pirro.
Estrofe 132: Também contra Inês se atiram os assassinos, em direcção ao peito (onde está o coração), sem suspeitarem que seriam castigados.
Estrofe 133: O narrador dirige-se ao sol, dizendo-lhe que deveria afastar os raios de sol (como fez quando Atreu deu de comer a Tiestes os filhos deste), e aos vales, dizendo que ouviram o último nome que ela pronunciou (Pedro) e que o ecoariam.
Estrofe 134: Tal como uma flor que é cortada antes de tempo (que perde o cheiro e a cor), Inês perdeu a cor que lhe iluminava o rosto antes de ter atingido o pico da sua beleza.
Estrofe 135: As ninfas do Mondego choraram tanto (hipérbole) que as lágrimas se transformaram numa fonte (a fonte dos amores) na Quinta das Lágrimas.
Estrofe 136: Depois de subir ao trono, D. Pedro vinga-se dos assassinos de Inês, mandando matá-los.Estrofe 137: A partir dali, D. Pedro passou a castigar todos os que roubavam, matavam, praticavam adultério, etc. Ficou, por isso, conhecido como D. Pedro, o Justiceiro.
Notas:
Inês de Castro: amante de D. Pedro, mandada matar por Afonso IV. D. Pedro: príncipe herdeiro, filho de D. Afonso IV casado com D. Constança, apaixonado por Inês de Castro. D. Afonso IV: rei de Portugal, manda matar Inês de Castro. D. Constança: mulher de D. Pedro.